29/07/2008

FILMES E PSICANÁLISE...cont...


POR QUE CHORAM OS HOMENS
The Man who cried, 2000, Sally Potter


Elenco: Johnny Deep, Christina Ricci, Cate Blanchett, John Turturro


É um filme de época, que não chamou a atenção da crítica na época de lançamento, mas chamou a minha. Fui atraída pelo elenco sem muito saber da estória, mas me surpreendi pela quantidade de temas que trata e desenvolve de maneira a não usar de clichês.



Sobre os temas que me referi e identifiquei, primeiro deles sobre um povo sem raízes (judeus e ciganos) com uma visão emocionante, destes que deixam para trás suas histórias e necessitam adaptar-se a qualquer situação para sobreviverem. É também especificamente sobre mulheres que utilizaram da arte aliada aos próprios artifícios para escaparem das regras da sociedade nazista. É também sobre pessoas que anseiam (aqui seria entendido como um conceito mais profundo da palavra, que traduz uma condição humana, é mais forte que desejo, é ansiar por amor, vida, o inalcansável, o sentido de tudo, aquilo que perdemos, o invisível; é uma ânsia por tudo isto). Os 4 personagens sentem isto em momentos diferentes. Amor e paixão, possíveis ou não e quem dita a possibilidade é a situação política. Também existe a Música, que no filme é o que une os diferentes mundos, é o que transcende as línguas faladas por cada cultura. É uma linguagem universal, que expressa de maneira clara e articulada as emoções que todos compartilham independentemente de sua cultura e da língua que falam.



Sinopse: Uma garotinha de sete anos, de família judia, chamada Fegele, tão apegada ao seu pai vê com dor, sua partida da Rússia para os EUA para buscar trabalho e consequentemente ganho financeiro para a família. Ela fica com sua avó e algumas noites após, houve um conflito local e todas as casas foram incendiadas e ela acaba sendo enviada pela avó a um navio que iria para EUA, mas ela acaba desembarcando na Inglaterra, sozinha. Lá, acaba sendo auxiliada por uma instituição, onde lhe dão um nome novo (Susie) e lhe ensinam a falar inglês. Apagam sua identidade antiga, lhe tomam as lembranças inclusive a foto de seu pai. Acaba sendo criada por uma família que a adota e lhe dá toda a educação, mas ela, mesmo depois de reinventada na Inglaterra, ainda se lembra de parte da essência de quem era. Adulta, ela parte para a França e se junta a uma companhia a fim de apresentarem-se em teatros. Assim, nestas apresentações e no meio artístico, conhece Lola (Cate Blanchett) que se torna sua amiga inseparável. Conhece o cigano César(Johnny Deep), que pouco fala, mas também se aproximam no dia-a-dia dos espetáculos e Dante (John Turturro), o vilão simpático, o cantor de ópera e rico.



Susie tem um sonho, reencontrar-se com seu pai. Cesar é um forasteiro por definição, é um viajante que observa e escuta (Johnny Deep faz um personagem de poucas falas, sua interpretação é fantástica no silêncio e na imobilidade). Seria seu aliado natural. Reconhecem algo um no outro, mas eles se entregam de maneiras diferentes. Ele aceita passivamente o destino do povo cigano e ela tenta fazê-lo lutar contra isto. Ao mesmo tempo, o modo que ele olha para ela, a abre para o mundo, a faz desabrochar, permite que ela volte a amar e confiar e isto a ajuda a sobreviver. Eles dão algo um ao outro. Ela se aproxima das coisas de seu povo, conhece sua família, coisas da cultura cigana, principalmente as músicas. Acaba dividindo apartamento com Lola, russa, com um forte sotaque (Cate Blanchett está sensacional aqui, cria uma linguagem corporal fantástica, um papel com muitas falas, mudanças e falha de caráter, muitas fraquezas e assim mesmo com uma profundidade, inteligência e tragédia - a heroína trágica - com sua beleza incrível) , que vê uma oportunidade em Dante para subir degraus na sociedade. Usa da beleza, sensualidade e astúcia para conquistá-lo. Dante é um cantor de ópera, muito reconhecido, de sucesso e prestígio entre os nazistas. Mas ele esconde um segredo, ele também é judeu. Ele é capaz de tudo para não ser pego. Mas não deixa de ser interessante no seu jeito de ser e tão complexo quanto os outros personagens.