18/06/2009

O LIVRO DE CABECEIRA - POESIA



Como havia proposto segue os Poemas, os quais Jérôme sugeriu como um plano, o qual Nagiko propõe ao Editor como "A AGENDA", (pertencerá a uma série de 13 livros tendo como tema "O AMANTE").

O Livrocorpo (Irei colocar nesta parte os primeiros 4 Livros, e assim sucessivamente nos próximos "Posts")

PRIMEIRO LIVRO (escrito no corpo de Jerome)

A AGENDA

No Pescoço

Eu quero descrever o Corpo como um Livro

Um Livro como um Corpo

E este Corpo e este Livro

Será o primeiro volume

De treze Volumes.

No Tórax

A primeira grandeza do livro esta no torso

Sede dos pulmões

Que sopra o vento que seca a tinta

Sede do coração

Que bomba a tinta

Que é sempre vermelha

Antes que seja negra

O coração e dois pulmões são mantidos retos

Perto, mas não se delimitando

Protegidos pela cobertura da caixa torácica

Cobertos por enegrecidos títulos de papel como marca d'água

O sopro da inspiração corre entre eles

Desenhados do ar por sua influência conjunta.

Da Nuca ao Cóccix

Nenhuma função do livrocorpo é singular

Se um serviço múltiplo puder ser realizado

Assim o ar da inspiração

Divide a mesma passagem

Com sais, palavras,

Sentenças, adoçantes, parágrafos

Todos desmoronam em agitação nas páginas ruminantes

Para jazer em fileiras seriadas como hastes de arroz

Num campo, ou os pontos da costura num tatami

Pacientemente aguardando a irrigação

Por água ou visão

Mesma que em mim anos não surja um leitor.

Na Barriga

A segunda grandeza do livro está na barriga

Fábrica para a mistura dos materiais

Um laboratório de seleção e fiação

Retendo e relembrando

Uma editora em fluxo contínuo

Estampada com o corte dentado do umbigo

Raramente ocioso, nunca parado

Dividindo o espaço com preparações

Para o futuro com a ironia da economia

Futuro e passado partilhando a mesma rodovia

Livrocorpo sempre mostrando, na sua história, evoluções.

No Pênis e Escroto

Eu sou a muito necessária

Cauda.

O pedaço-rabo

O sempre reprodutor

Epílogo

O derradeiro parágrafo pendente

Esta é a razão

Para que o próximo livro

Brote.

Jérôme não retorna do seu encontro com o Editor, Nagiko enciumada vai atrás e descobre os dois deitando-se como amantes. Enraivecida, ela procura outros em quem escrever. Assim, da sua procura, surgem dois irmãos suecos nos quais ela escreve: "O LIVRO DO INOCENTE" e o "LIVRO DO IDIOTA".

SEGUNDO LIVRO

O LIVRO DO INOCENTE

No Peito

Este é um livro inocente – não usado e não lido

Um inocente com trezentas páginas branco-leite

E sem ilustrações

Na Barriga

As páginas estão ainda empoeiradas

Com um pó branco do fabricante

As páginas sabem doces – como leite aguardando a

Ferroada da pena

A tinta suja

E os intrometidos invadir os

Intrincados espaços do corpo virgem

Nas Costas

A lombada é tensa – costurada firme

Esperando dobras e quebras

Nas Nádegas

As páginas quedam lisas e frescas – os músculos

Macios das páginas

Nenhuma carne desnecessária

Foi encorajada a se exceder pelo tatear casual

O polegar úmido do leitor expectante ainda não marcou os tecidos

Delicados deste magro limpo sorridente volume

Separe-me

E abra-me à força

Para o prazer

TERCEIROLIVRO

O LIVRO DO IDIOTA

Garganta e Tórax Superior

Esta é uma caixa triste de um livro cheio de palavras

Mas com pouco significado

Ele soa oco quando se ausculta para entende-lo

Pois vago, vazio, e de olhos esbugalhados numa página

Ele fala algaravia e alto sem sentido no texto

Seus pulmões são ruidosos enquanto ele está silente

Ele é silente quando sopra e arqueja para fazer o maior barulho

Barriga

Talvez deveria haver paciência e pathos

Resevadas para este idiota congênito

Babando, chupando seu dedo

Digerindo seus pensamentos

Coçando sua cabeça e sua barriga

Procurando por pulgas entre as páginas de suas pernas

Mas tal simpatia e paciência são aqui desperdiçadas

Quadril e Braços

Ou talvez deva haver cuidado

E admiração secreta pelo livro-idiota

Que tem licença para falar a verdade através do humor

Um tolo pode, com proveito, esvaziar a presunção

Mas essa admiração é aqui desperdiçada

Costa Superior

Este livro não possui a virtude da ironia

Nem merece simpatia devida aos realmente loucos

Entre ruído alto e o silêncio não há nada de substancial.

Costas Inferior

Como você lê um tal livro?

Talvez você não leia ou não consiga

Talvez melhor – ele possa ser reutilizado, reescrito

Nádegas

Talvez deveríamos virar as costas a ele

Poderemos encontrar espaço

Entre sua maior prega de arrogância flatulenta

Para outro livro

Deveríamos retoma-lo para uma outra tentativa

Para que não seja largado e perdido

Esquecido em alguma prateleira baixa

Mantido como papel usado na privada

O livro seguinte, escrito num acadêmico cantonês idoso, que depois corre pelas ruas para escapar do atelier do Editor.

QUARTO LIVRO

O LIVRO DO IMPOTENTE

Peito

Este é um livro exausto devido a muita leitura?

Ou muita pouca leitura?

Tórax e Barriga

Dos cabelos da cabeça ao fim das unhas dos pés – as páginas

Estão marcadas com as nódoas do uso

Ou mal-uso

As palavras seriam mais bem lidas

Fora da página

As palavras ainda significam?

Costas

Há ainda um espaço

Entre os capítulos

Ou todos os assuntos embaraçaram-se?

Neste livro o índex de citações

É mais longo que o próprio livro

Essa vida tem muitas notas de rodapé

No todo, não passa de um pé chato

Sua alma mergulhada fundo

Em bolhas calosas e grãos

Nádegas e Posterior da Coxa

O maior ímpeto de vida deste livro

É muito freqüentemente bloqueado pela qualificação

Ele é limitado pelos seus "ses" e "mas"

E "ses" somente

E "entretantos"

Desculpas para uma vida que está preste a fechar

Suas capas pelo último momento

E, então, amarrotar-se na poeira

De uma não-vista

E "para-ser-lembrada-nunca" biblioteca