CRÔNICA DA INOCÊNCIA
(Comédie de l´Innocence, França, 2000)
Elenco: Isabelle Huppert, Jeanne Balibar, Charles Berling e Denis Podalydes
Este filme foi diferente, foi muito bem aceito aqui. A trama é sobre Camille, um menino prestes a completar 9 anos de idade, que se encantou com uma câmera e saiu captando imagens com ela, fazendo uma espécie de diário com imagens. Ele promete aos pais que no seu aniversário, ele mostrará o filme a eles. Neste mesmo dia, sua mãe o encontra no parque e o vê aborrecido e diz a ela que quer voltar para sua “verdadeira” mãe. A mãe não entende o menino, que lhe mostra um pedaço de papel com o endereço, de onde afirma ser sua verdadeira casa. Então, no dia seguinte, para entender a estória do menino, ela o leva até o endereço que ele lhe mostrou e lá constata que morava ali Izabella, uma violinista que tinha um filho, que faleceu há algum tempo, e que teria na presente data 9 anos de idade. A mesma idade do menino.
Há uma confusão entre o sobrenatural, o espiritismo, crenças pessoais, psicologia e amor maternal. A história do garoto, que diz que sua mãe natural não é a verdadeira, é conduzida por esses meandros, nunca se fixando claramente em uma possibilidade de interpretação que ajude o espectador a decidir no que acreditar.
O mais interessante do filme é justamente essa confusão que gera na cabeça de quem o vê. O mérito do roteiro deixa de ser a capacidade de impressionar com truques no fim. Ele consegue fazer coisa bem mais difícil ao contar essa história, sem permitir nos orientar diante do que é mostrado. Não existe o prazer de se contar ou assistir a uma história. Há apenas uma sucessão de fatos que não assumem uma relação entre causa e efeito segura.
A impressão de desorientação é criada quando os atores agem, quando os cenários co-atuam, quando a câmera se posiciona sutilmente de forma a permitir uma expectativa de mistério. Os elementos cinematográficos fazem o filme funcionar.
Este é um filme distinto, tem toda a elegância de sua direção presente em cada plano, em cada reação dos personagens. Mostra que crianças não são seres inocentes. São manipuladores e sabem muito bem controlar o seu universo e brincam com o mundo, envolvendo os adultos que lhe são próximos, sem que estes se dêem conta disto, e indo um pouco mais além, quando descobrem este poder, se tornam sádicas e sentem um lúdico prazer ao se considerarem senhoras de um mundo que perde o sentido aos seus pais, mas que lhes é inteiramente receptivo.
É um filme ambíguo e que saiu da mediocridade justamente por conta disto, é bastante intrigante também. A surpresa final é anulada, não tem truques mirabolantes pra resolver uma situação, mas considera-se os fatos por meio de um caminho mais lógico.