06/04/2008

FILMES E PSICANÁLISE...contin...

Escritores da Liberdade
Título Original : Freedom Writers, EUA, 2007.
Este filme é baseado numa história real a partir de um sonho de vida, de uma professora novata de Língua Inglesa e Literatura em curso equivalente ao nosso 2º grau, jovem, com uma visão romântica de mundo e que acreditava, pelo exemplo recebido de seu pai, que ela podia fazer a diferença em sala de aula. Esta é a professora Erin Gruwell, que inicia seu primeiro dia de aula na escola, cansada do trabalho que tinha, era formada em Direito e desenvolvia trabalhos em empresas até aquele momento e desiludida quanto às possibilidades de crescimento e realização pessoal naquele âmbito profissional, a jovem Erin Gruwell (Hillary Swank) resolve mudar de ares e dedicar-se à educação. No início mostrava ingenuidade, timidez, curiosidade e determinação; sua vocação para o magistério vai se construindo conforme os desafios que ela encontra entre os alunos e ao lidar com a burocracia e o conservadorismo dos funcionários do sistema pedagógico da escola. Assume então uma turma de alunos problemáticos nesta escola, que não está nem um pouco disposta a investir ou mesmo acreditar naqueles garotos, que são na sua maioria negros, latinos, asiáticos cambojanos, que vivem em guetos e "gangs". São garotos que sairam do reformatório, outros que usam sensores nos tornozelos para serem rapidamente localizados.


No primeiro dia de aula, ela, na entrevista com a diretora, mostra seu romantismo e a falta do senso da realidade na qual estará inserida, e diz que a verdadeira luta deve acontecer na sala de aula, não nos tribunais.
Houve no primeiro dia, uma briga dos alunos dentro da sala. Erin começa a perceber as diferenças, os grupinhos que tem sua formação definida pelas fronteiras das cadeiras da sala de aula. Eles demonstram resistência e intolerância à interação, preferindo o isolamento dentro da própria sala. Erin é vista como a representante do domínio dos brancos, e que terão que engolir goela abaixo os príncipios perpetrados pela escola e que lhes são de nenhuma serventia dentro daquilo que eles conhecem bem, que é a violência, a retaliação, a pobreza, a discriminação. Mesmo não conseguindo o apoio de que precisa por parte da instituição e dos seus colegas professores, ela vê a possibilidade real de superar as mazelas sociais e étnicas ali existentes. Para isso, ela cria alguns projetos dentre os quais, iniciá-los a escrever. Ela compra cadernos que servirão a eles de diários, serão livres para expressarem o que quiserem ali. Podem registrar eventos da própria vida, poesias, desabafos.... e eles vão aceitando isto pouco a pouco. Ela lhes mostra o livro chamado O Diário de Anne Frank, e partindo do exemplo de Anne, menina judia alemã, que sofreu perseguições por parte dos nazistas até perder a vida durante a 2ª Guerra Mundial. Erin consegue mostrar aos alunos que as barreiras e situações de exclusão e preconceito podem afetar a todos, independentemente da cor da pele, da origem étnica, da religião, o propósito de despertar alguma identificação e empatia, ainda que os personagens vivam em épocas diferentes; a partir de eventuais encontros imaginários cada aluno poderia desenvolver uma atitude especial de tolerância para com o “outro”.
Erin toma sua tarefa como um grande desafio: educar e civilizar aqueles garotos, tão jovens e sem perspectivas, esquizofrênizada e estigmatizada como “os sem-futuro” pelos demais professores. Percebe que seu trabalho deve ir para além da sala de aula, arranja tempo nos finais de semana, para levá-los ao museu do holocausto, possibilitando-os saber os efeitos traumáticos da ideologia da “grande gangue” nazista, que provocou a 2ª. Guerra Mundial e o holocausto, e também reconhecer as semelhanças com suas “pequenas gangues” da escola. Este filme também tem seu valor na ousadia da linguagem cinematográfica, mostrando os problemas psico-sócio-culturais que atingem a escola contemporânea; também porque ele dá o panorama da diversidade dos grupos, com seu rígido código de honra, cada um no seu território, o narcisismo da recusa e da intolerância para com “os outros”, o boicote às aulas, a prontidão para aumentar os índices de violência entre os jovens e transformar a escola no seu avesso.
A partir do respeito e a forma de tratar os alunos como nenhum outro professor havia tratado, ou seja, escutando-os como adultos que estavam se formando, que ela conquista um a um. Estudando o livro "O Diário de Anne Frank" e o Holocausto, os "Freedom Writers" saem em busca de heróis pelo mundo. Enquanto escrevem seus projetos, os alunos saem em busca de se tornarem eles mesmo esses heróis. E pela primeira vez eles poderão experimentar a esperança de que talvez eles possuam a chance de mostrar ao mundo que suas vidas também fazem o diferencial e que eles possuem algo a dizer ao mundo.
Os diários dos alunos foram juntados e formou-se assim o livro "The Freedom Writer's Diaries: How a Teacher and 150 Teens Used Writing to Change Themselves and the World Around Them" (algo como "O Diário dos Escritores da Liberdade: Como uma Professora e 150 Adolescentes Usaram a Escrita para Mudá-los e o Mundo ao seu Redor") escrito pela professora do ensino médio Erin Gruwell e seus alunos. Gostei muito, me emocionou, e a mensagem dele me mostrou que uma pessoa pode fazer toda a diferença na vida de muitas, se houver olhos para enxergar e vontade para sair de uma burrice de sistema que nos obriga todos os dias a ser aquilo que eles querem que sejamos.