A ÚLTIMA TEMPESTADE
(Prospero's Book, 1991)
Peter Greenaway
Elenco: John Gielgud, Michael Clark, Isabelle Pasco, Michel Blanc, Erland Josephson.
Sinopse: é uma tradução da obra de Shakespeare e seu roteiro segue à trama, características e textos originais, no qual Próspero, duque de Milão, após 20 anos de exílio forçado numa ilha distante com sua filha, planeja uma vingança para em seguida poder se reconciliar com seus inimigos. Um dia Próspero imagina que uma tempestade muito forte trará todos os seus inimigos para a ilha. O sonho se transforma em realidade e tais inimigos são materializados como criaturas mitológicas. Próspero inventa diálogos e idéias para estes inimigos, mas aos poucos estes fogem do seu controle e Alonso, como inimigo, trama contra ele, usando os bobos Trinculo e Stephano. O filme procura enfatizar e celebrar o texto com toda a magia, ilusão e decepção em que a peça é baseada. Palavras, fazendo textos, que formam páginas e resultam em livros de onde todo o conhecimento é extraído de forma ilustrada. Esta é a razão de se intitular A ÙLTIMA TEMPESTADE.
Prospero está em sua banheira "fabricando" a tempestade que irá abater o barco em que viaja Alonso, rei de Nápoles, com seu filho, Ferdinando e sua corte. E, como a tempestade, todas as imagens do filme surgem a partir do tinteiro de Próspero, como se ele as fosse tirando, magicamente, dali. Entremeado à narrativa feita pelo próprio Próspero, ele escreve em seu livro sua vingança e ao mesmo tempo que comenta os livros dos quais ele pôde levar para o exílio.
Começando pelo Livro das Águas, o qual ganhou de presente de casamento dos duques Milaneses, cheio de desenhos investigativos e de textos explanatórios, escrito em muitos papéis diferentes e cada desenho com uma associação aquosa concebível : mares, tempestades, correntes, canais, lágrimas. Conforme as páginas são viradas, balançam e tempestades que se lançam.
Próspero pode ser visualizado em uma piscina romana, escrevendo e recitando a palavra ‘Boatswain’ (contramestre), que pertence a uma das falas de A Tempestade. O diálogo entre os tripulantes no momento da tempestade é suprimido e suas falas só podem ser ouvidas mescladas à fala de Próspero. Além disso, cenas de um barco à deriva são sugeridas, primeiramente, através de uma ilustração em movimento contida no livro. Logo depois, o cineasta mostra um barco no meio de uma tempestade que, depois de um corte, aparece nas mãos de Próspero, como se fosse um brinquedo e, em seguida, é colocado na água.
[como é difícil escrever sobre este filme...Meldels!]
Através de enquadramentos inusitados que sugerem a simultaneidade de acontecimentos: vê-se o barco à deriva, em conseqüência da urina de Ariel (espírito do ar que serve a Próspero), enquanto outros eventos são percebidos por trás dessa cena. Cenas são intercaladas por 24 livros, as quais iniciaram-se com o Livro das àguas e cada um deles faz referências ao conhecimento humanístico da Renascença, fazendo uma rica relação com Shakespeare e nossa era. Mas estes livros são abertos em determinados episódios , estabelecendo assim um diálogo entre estes, as cenas e os textos.
[Mas não vi nenhuma referência aos livros da Bíblia, apesar de me remeter logo no ínico, pelas águas, ao Gênesis...os 24 anciões circunvizinhos ao trono de Deus no Livro de Revelação.]
Sinopse: é uma tradução da obra de Shakespeare e seu roteiro segue à trama, características e textos originais, no qual Próspero, duque de Milão, após 20 anos de exílio forçado numa ilha distante com sua filha, planeja uma vingança para em seguida poder se reconciliar com seus inimigos. Um dia Próspero imagina que uma tempestade muito forte trará todos os seus inimigos para a ilha. O sonho se transforma em realidade e tais inimigos são materializados como criaturas mitológicas. Próspero inventa diálogos e idéias para estes inimigos, mas aos poucos estes fogem do seu controle e Alonso, como inimigo, trama contra ele, usando os bobos Trinculo e Stephano. O filme procura enfatizar e celebrar o texto com toda a magia, ilusão e decepção em que a peça é baseada. Palavras, fazendo textos, que formam páginas e resultam em livros de onde todo o conhecimento é extraído de forma ilustrada. Esta é a razão de se intitular A ÙLTIMA TEMPESTADE.
Prospero está em sua banheira "fabricando" a tempestade que irá abater o barco em que viaja Alonso, rei de Nápoles, com seu filho, Ferdinando e sua corte. E, como a tempestade, todas as imagens do filme surgem a partir do tinteiro de Próspero, como se ele as fosse tirando, magicamente, dali. Entremeado à narrativa feita pelo próprio Próspero, ele escreve em seu livro sua vingança e ao mesmo tempo que comenta os livros dos quais ele pôde levar para o exílio.
Começando pelo Livro das Águas, o qual ganhou de presente de casamento dos duques Milaneses, cheio de desenhos investigativos e de textos explanatórios, escrito em muitos papéis diferentes e cada desenho com uma associação aquosa concebível : mares, tempestades, correntes, canais, lágrimas. Conforme as páginas são viradas, balançam e tempestades que se lançam.
Próspero pode ser visualizado em uma piscina romana, escrevendo e recitando a palavra ‘Boatswain’ (contramestre), que pertence a uma das falas de A Tempestade. O diálogo entre os tripulantes no momento da tempestade é suprimido e suas falas só podem ser ouvidas mescladas à fala de Próspero. Além disso, cenas de um barco à deriva são sugeridas, primeiramente, através de uma ilustração em movimento contida no livro. Logo depois, o cineasta mostra um barco no meio de uma tempestade que, depois de um corte, aparece nas mãos de Próspero, como se fosse um brinquedo e, em seguida, é colocado na água.
[como é difícil escrever sobre este filme...Meldels!]
Através de enquadramentos inusitados que sugerem a simultaneidade de acontecimentos: vê-se o barco à deriva, em conseqüência da urina de Ariel (espírito do ar que serve a Próspero), enquanto outros eventos são percebidos por trás dessa cena. Cenas são intercaladas por 24 livros, as quais iniciaram-se com o Livro das àguas e cada um deles faz referências ao conhecimento humanístico da Renascença, fazendo uma rica relação com Shakespeare e nossa era. Mas estes livros são abertos em determinados episódios , estabelecendo assim um diálogo entre estes, as cenas e os textos.
[Mas não vi nenhuma referência aos livros da Bíblia, apesar de me remeter logo no ínico, pelas águas, ao Gênesis...os 24 anciões circunvizinhos ao trono de Deus no Livro de Revelação.]
Ainda falando do episódio inicial do filme, pelo fato deste trecho condensar vários recursos cinematográficos, marcando a grande expressividade visual. Além disso, essa cena é também significativa no que diz respeito à temática da peça, que pode ser relacionada à questão do poder, ao sobrenatural e ao desejo de vingança do personagem principal.
Na primeira cena da peça, vemos Alonso, o rei de Nápoles, que retorna, por mar, do casamento de sua filha Claribel com o rei da Tunísia. Acompanham-no vários nobres: Gonzalo (um honesto conselheiro), Antônio (o irmão de Prospero que usurpou seu ducado), Ferdinando (filho do rei de Nápoles), Sebastião (irmão do rei de Nápoles), Adriano e Francisco (lordes), Estéfano (o despenseiro bêbado) e Trínculo (o bobo da corte). No meio da viagem, entretanto, uma terrível e incontrolável tempestade alcança a embarcação, o que provoca pânico e pavor em todos. Ao fim, o mau tempo faz a embarcação naufragar e todos os tripulantes vão terminar na ilha mágica de Próspero. O segundo Livro dos Espelhos, que nos fala do duplo, com suas páginas espelhadas, brilhantes, algumas opacas outras translúcidas, algumas de papel prateado outras cobertas com uma película de mercúrio. Alguns espelhos refletem o leitor, outros refletem como o leitor será no futuro, como seria se fosse uma criança, um monstro ou um anjo. São os 2 livros principais, inciais à história, pois onde temos o abuso de enquadramentos inusitados e sobreposições (ou superposições) de imagens na cena inicial. Como diretor de vanguarda, uma de suas características é “chocar” a audiência, provoca, certamente, uma atitude polêmica devido às suas cenas bizarras, com citações complexas em destaque.” É isto precisamente o que ele consegue com sua tempestade de palavras, ruídos, sons e, principalmente, de imagens e cores, usadas com intensidade na cena inicial.
Esses recursos são utilizados quando se quer tratar de acontecimentos simultâneos, ou simplesmente como efeito artístico, possibilitado pela manipulação de imagens. Ambos contribuem para o visual denso do filme em que imagens são, ao mesmo tempo, parte de um espetáculo visual renascentista e também parte de um intrincado conjunto com muitos significados.
A mesclagem de vozes e as palavras materializadas graficamente na tela demonstra as relações de poder existentes na peça. Próspero é o única que possui o conhecimento; assim, a palavra, escrita por ele e materializada na tela, simboliza sua superioridade. Além disso, Próspero tem sua voz mesclada à das outras personagens da peça, porém sempre se sobressaindo às demais. Este é como um sinal do poderio de Próspero, que controla as pessoas e os acontecimentos através de sua magia e conhecimento. Ao apropriar-se, através da mesclagem de vozes, do diálogo das outras personagens, o poder da manipulação de Próspero alcança seu ponto culminante.
Os demais livros, tão surpreendentes as imagens (que tanto mais me falaram que qualquer outra tradução poderia assim o fazer), assim seguiram :
- Memória técnica chamada arquitetura e outra música (quando as páginas são abertas, planos e diagramas elevam-se por completo, luzes tremulam e música é tocada nos salões);
- Um inventário alfabético dos mortos,
- O livro das Cores,
- Atlas pertencente a Orfeu
- Anatomia
- Livreto das pequenas estrelas
- Cosmografia universal
- Terra
- Amor
- Bestiário de animais do passado/presente/futuro
- Utopias
- Contos dos viajantes
- Livro de mão do antiquário
- Uma autobiografia
- Os dois conceitos do Minotauro
- Movimento
- Mitologias
- Jogos
- As 35 Obras teatrais
- Uma peça chamada Tempestade
Prospero's book, pra mim é um filme que diz isto: você é o que você lê, somos produtos da educação recebida, da nossa formação cultural, todas as obras ajudaram-no a relacionar , a construir o imaginário do artista, que agora se apropria e se utiliza da rede de signos conhecida a fim de criar o novo, um ato mágico, misterioso e inexplicável, exprimindo os sonhos fantásticos que lhe atravessam a alma e o corpo.