(EUA, 2002)
Steve Shainberg
elenco: James Spader (Dr. E. Edward Grey), Maggie Gyllenhaal (Lee Holloway, a secretária), Jeremy Davies (Peter), Lesley Ann Warren (Joan Holloway), Stephen McHattie (Burt Holloway), Patrick Bauchau (Dr. Twardon), Jessica Tuck (Tricia O'Connor), Oz Perkins (Jonathan), Amy Locane (irmã de Lee), Mary Joy (Sylvia), Michael Mantell (Stewart), Lily Knight (Paralegal)
elenco: James Spader (Dr. E. Edward Grey), Maggie Gyllenhaal (Lee Holloway, a secretária), Jeremy Davies (Peter), Lesley Ann Warren (Joan Holloway), Stephen McHattie (Burt Holloway), Patrick Bauchau (Dr. Twardon), Jessica Tuck (Tricia O'Connor), Oz Perkins (Jonathan), Amy Locane (irmã de Lee), Mary Joy (Sylvia), Michael Mantell (Stewart), Lily Knight (Paralegal)
Vi o filme 2 vezes com o mesmo olhar protestante. Na 3ª vez combinei comigo mesma que iria assistir, deixando minhas ferramentas de julgamento do lado de fora e tratei de ver sem fazer julgamentos quanto a isto ou aquilo. Percebo mais claramente nesta última vez, que de vez em quando a análise ou crítica de alguns filmes é atrapalhada por seus defensores, assim também é o contrário. Gostar ou não de um filme, por "motivos errados" é algo do senso comum, que tenta colocar opiniões grosseiras e equivocadas sobre aquilo que se conhece quase nada. E buscando pela internet opiniões a respeito deste filme, não me surpreendi com as coisas bobas que li tanto no sentido de polarização em torno da "perversão sexual" presente no filme como de outro indo contra a sexualização excessiva, onde principalmente nos EUA, para os puritanos, o sexo é mais obsceno do que a violência. Aqui, por exemplo, o título do filme mexeu com a categoria das secretárias, que por meio de sua Federação solicitou a empresa Imagem Filmes (distribuidora do filme no Brasil) a não veiculação do pôster do filme e ao Conar que o tirasse de cartaz, obviamente sem sucesso, é claro!
Acredito que o filme foi mal interpretado nestas dimensões todas, superficialmente (como eu o fiz nas primeiras vezes), como se a moral da estória fosse: toda secretária gosta de ser pau mandado e ainda dizer sim senhor. Outra versão: toda mulher vocacionada para ser pau mandado, só pode se realizar com um patrão empenhado a tratá-la a pontapés. Tal reducionismo, no meu ver, não é compartilhado neste filme. Como a secretária e o advogado do filme, poderia ser qualquer outro profissional, sem desmoralizar as categorias, isto é apenas o pano de fundo pra situar os desvios de comportamento dos seus personagens dentro de um cenário capitalista, estabelecendo quais são os critérios desta relação patrão-empregado no sistema de classes, bastante conhecidos. O que se vê assim é o abismo entre estes dois extremos e a subserviência como condição "sine qua non". Este sim é o filme; também não o vejo como um filme de sado-masoquismo (mesmo em cenas mais claudicantes, tipo a da secretária ficar horas e mais horas a fio sem poder tirar as palmas das mãos da mesa por ordem do seu chefe, ao ponto dela não se aguentar mais, e faz xixi ali mesmo) este seria o meio utilizado para atingir o fim, jamais o fim em si. Poderia ser considerado um conto de fadas ao avesso.
Sobre a estória : após passar algum tempo em um sanatório, Lee Holloway (Maggie Gyllenhaal) volta para a casa de seus pais pronta para recomeçar sua vida. Ela então faz um curso de secretária e tenta um emprego com E. Edward Grey (James Spader), que tem um escritório de advocacia. Apesar dela nunca antes ter trabalhado Lee é contratada por Grey, que não dá importância para sua falta de experiência. Inicialmente o trabalho parece bem normal e entediante, pois só digita, arquiva e faz café e Lee se esforça para agradar seu chefe e sua mãe, Joan (Lesley Ann Warren), se mostra ansiosa para a filha ser bem sucedida. Lentamente Lee e Grey embarcam em uma relação mais pessoal atrás de portas e cruzam linhas de conduta da sexualidade humana, um caso de amor no qual os papéis de dominação e total submissão ambos desempenham perfeitamente.
Ela vive uma vida sem significado e com o princípio dos abusos sofridos, ela os sente como uma necessidade, a satisfação da "produtividade" descoberta (onde erros são punidos e de outra lado muitas vezes o patrão ouve seus problemas, demonstrando sensibilidade), a "exploração" sendo internalizada, um caminho sem volta de uma crença única e possível, onde as necessidades de um são compensadas pela do outro.
Ao final, alguns vêem como um elogio ao amor estranho, não acho isto!
A simbiose da ironia e desespero vistos, mostra-nos por meio da tomada final de Lee, um olhar para a camêra, que de forma alguma é de uma pessoa realizada. Há uma conformação e tristeza neste casamento perfeito de dominante e dominado, que não é vista com alegria, mas com uma pontada de desesperança. Se há uma patologia, não é dos personagens, mas da sociedade e das relações, as quais ela impõe.