22/07/2008

FILMES E PSICANÁLISE...cont...

GIORDANO BRUNO
Giordano Bruno, 1973, Giuliano Montaldo



Elenco: Gian Maria Volonté, Renato Scarpa, Mark Burns, Giuseppe Mafflioli, Hans-Christian Blech, Charlotte Rampling, Mathiéu Carrièri, Massimo Foschi


Com certeza este filme é uma obra cultural de referência à uma personalidade de uma época, na qual não podia-se pensar diferente, ser alguém de espírito livre ou mesmo falar sobre temas contraditórios, como foi Giordano Bruno. Um homem fora do seu tempo.
Seu nome de batismo era Filippo Bruno, nascido em Nola, província de Nápoles. Foi estudar humanidades, lógica e dialética em Napóles ainda bem jovem. Suas maiores influências foram no período de sua formação. Atraído pelas obras de Platão e Hermes Trimegistus, muito difundidos na Itália (no período Renascentista). Aprendeu Mnemotécnica (métodos de memorização) influenciado por Raimundo Lúlio. Aos 17 anos, ao entrar no mosteiro, já começava a duvidar dos dogmas da igreja. Ele recebe hábito em São Domingos (onde São Tomás de Aquino havia lecionado) e assim muda de nome para Giordano.

O que mais me chama a atenção para a vida dele é que suas tendências heterodoxas, não só o levaram para a fogueira da Inquisição, mas ainda hoje perdura os motivos da sua condenação. A igreja apenas deplorou a sua execução. Assim quis eu tentar entender um pouco melhor os pensamentos de Giordano Bruno.

[Obviamente que não estou tomando por base o filme, mas sim a biografia. Acho sim, que vale à pena o conhecimento prévio antes do filme, depende daquilo que cada qual tem por interesse, neste caso o filme torna-se um complemento].

Dotado de um temperamento colérico e arrogante, dado à explosões, era intolerante com a ignorância dos colegas de claustro, principalmente quando o pegavam para discussões teológicas. Ainda noviço no Mosteiro, dizia-se saber mais teologia do que todos os que o interpelavam. Aos 28 anos foi ameaçado de excomunhão e viu sua carreira acadêmica e sacerdotal serem fechadas. Assim tornou-se como um cigano e iniciou sua peregrinação de cidade em cidade. Viu-se como um Monge errante, para ele qualquer lugar era lugar e lhe bastava. Tanto que dizia o seguinte : "Ao verdadeiro filósofo qualquer terreno é a sua pátria" .

Ele criticava o cristianismo ter destruído as antigas religiões, pois pra ele era fonte de conhecimento. Vira em Hermes Trimegistro um símbolo importante da teologia antiga (de onde todas as outras derivaram). Difundiu em incontáveis conferências a doutrina heliocêntrica de Copérnico, ao colocar o sol no centro do cosmos, resturara a deidade egípcia. A igreja, visto isto, não ficaria em paz perante estas pregações de Bruno.

Acreditava na liberdade e no direito de dizer o que se pensava, tinha um verdadeiro fascínio pelas várias formas de interpretar o mundo. Interessou-se pela cabala judaica. Manteve-se dominicano formalmente apenas, pois na verdade se via como um mago hermético, um sacerdote de Amon. Poderia chamá-lo de tudo, menos "dogmático", pois a abertura que ele tinha para tudo que viesse a somar ao seu conhecimento era bem vindo e para o espanto dos teólogos, não fazia distinção de magia boa da má; dizia que eram como a espada, podia-se "fazer bom ou mau uso de seu fio" . Moisés e Jesus eram magos para ele. Citando Epicuro e Lucrécio, assinalava a existência de tantos sóis e outros tantos planetas e repudiava a concepção de finitude de Aristóteles, dizendo não haver centro do universo, e que "o seu seu centro está em toda parte e sua periferia em parte nenhuma" . Quanto mais mundos houvesse, mais vasto seria o império de Deus.

Nestas suas andanças, Bruno tentava encontrar o lugar ideal, de ambiente mais liberal e ameno para suas perigosas palavras e exercícios de magia. Nada viu de mal em ser católico e ao mesmo tempo ingressar numa congregação luterana na Alemanha. Inclusive, elogiou publicamente Lutero, em Wittemberg (a capital da heresia). Tinha o profundo desejo de que Luteranos e Católicos deixassem de se odiar, sonhou até que se abraçassem à verdadeira religião nascida nas pirâmides. Esta foi a utopia de Giovani Bruno. Sem lugar no mundo, e sem religião que aceitasse seus pensamentos. Assim se condenou.

Saindo da prisão, aos 52 anos ao lado da Igreja de S.Pedro, seguiu pelas ruas de Roma até chegar ao Campo dei Fiori, onde lá o deixaram amordaçado para que assim fosse queimado . Antes, ofereceram-lhe o crucifixo para o beijo e ele revirou os olhos.

No filme Giordano Bruno, pode-se observar o conteúdo histórico presente e desfrutar de imagens belíssimas assim digo o mesmo quanto a trilha de Ennio Morricone e a estupenda interpretação de Gian Maria Volonté.

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