Cao Hamburger, 2006
Elenco: Michel Joelsas, Germano Haiut, Daniela Piepszyk, Paulo Autran, Simone Spoladore, Eduardo Moreira, Caio Blat, Rodrigo dos Santos.No ano de 1970, ano de copa do mundo e o Brasil indo para a conquista do Tri-campeonato, momento também de efervescência cultural e ao mesmo tempo no ápice da ditadura militar, um verdadeiro caldeirão de forças. É neste contexto que é contada a estória de um garoto, chamado Mauro, de 11 anos de idade, sob a sua própria ótica e narração, num momento opressivo do qual ele não entende absolutamente nada. Levando uma vida completamente normal, ao lado dos pais, ele se vê de repente roubado desta sua vida e ser jogado num mundo totalmente diferente [o mundo da realidade na vida falsa]. Mauro não tem idéia do que é isto e o porque disto, pois seus pais lhes dizem que irão sair de férias e rapidamente precisam sair de Belo Horizonte e partirem pra São Paulo, pra levá-lo para a casa do avô paterno [judeu], (Paulo Autran) , que recebe esta notícia por telefone do seu filho. Na verdade, os pais são comunistas mas Mauro nem sabe o que é isto direito.
Quando chegam em São Paulo, no bairro do Bom Retiro, o menino é deixado às pressas na porta do prédio do avô e saem mais do que de pressa dali. O menino acredita que seus pais voltarão para buscá-lo quando começar a copa do mundo foi o que seu pai lhe prometeu. Quando Mauro entra no prédio, vai procurar o apartamento do avó, bate à porta e ninguém atende. Assim ele fica ali, esperando...esperando..brinca com seu jogo de botões e adormece. Até que chega o vizinho do apartamento ao lado, [um senhor de idade, judeu polonês] (Germano Haiut) que é conhecido por Shlomo o vê ali. Pergunta quem é ele e assim o menino descobre que seu avô morrera no dia anterior.
Shlomo mora só e se sente na obrigação de tomar esta responsabilidade para si, de cuidar do menino enquanto se descobre o que fazer. Assim começa as formas deles se relacionarem. Todo o clima denso, político, ditadura, dificuldades, perseguições, tortura...tudo isto precisa ser meio que escondido da criança, tratado com metáforas, eufemismos. Do clima político conturbado, tentar transformar para quela criança numa linguagem, que Mauro consiga assimilar, mas que ao mesmo tempo esconder a violência do momento. Isto é o que parece ser a mensagem mais importante do filme, o prisma do olhar deste menino daquele momento no sentido mais humano (tirando qualquer visão sócio-política) é muito bem colocado no roteiro (muito emocional e bem desenvolvido).
O cinema tem muito este valor, que além de ser um produto pra entretenimento, além de ser uma obra artística, além de ser um bem cultural, ele é também um fonte de fundamentação da história, ajuda-nos a entender a história da nossa época.
Levantar uma reflexão poética (que vejo ser a proposta do diretor) sobre o que foi este momento do Brasil sob o ponto de vista de uma criança, chama o expectador a entrar neste mundo, no qual Mauro está envolvido (sua decepção com os pais, a transição da infância para a preparação para a adolescência, suas angústias, a descoberta da sexualidade, a convivência com diferentes pessoas e todas desconhecidas, que o levam a conhecer outro mundo).
Partindo da ótica infante, ele sente-se agora preparado para voltar a viver e voltar para sua vida afinal.
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