29/07/2008

FILMES E PSICANÁLISE...cont...


POR QUE CHORAM OS HOMENS
The Man who cried, 2000, Sally Potter


Elenco: Johnny Deep, Christina Ricci, Cate Blanchett, John Turturro


É um filme de época, que não chamou a atenção da crítica na época de lançamento, mas chamou a minha. Fui atraída pelo elenco sem muito saber da estória, mas me surpreendi pela quantidade de temas que trata e desenvolve de maneira a não usar de clichês.



Sobre os temas que me referi e identifiquei, primeiro deles sobre um povo sem raízes (judeus e ciganos) com uma visão emocionante, destes que deixam para trás suas histórias e necessitam adaptar-se a qualquer situação para sobreviverem. É também especificamente sobre mulheres que utilizaram da arte aliada aos próprios artifícios para escaparem das regras da sociedade nazista. É também sobre pessoas que anseiam (aqui seria entendido como um conceito mais profundo da palavra, que traduz uma condição humana, é mais forte que desejo, é ansiar por amor, vida, o inalcansável, o sentido de tudo, aquilo que perdemos, o invisível; é uma ânsia por tudo isto). Os 4 personagens sentem isto em momentos diferentes. Amor e paixão, possíveis ou não e quem dita a possibilidade é a situação política. Também existe a Música, que no filme é o que une os diferentes mundos, é o que transcende as línguas faladas por cada cultura. É uma linguagem universal, que expressa de maneira clara e articulada as emoções que todos compartilham independentemente de sua cultura e da língua que falam.



Sinopse: Uma garotinha de sete anos, de família judia, chamada Fegele, tão apegada ao seu pai vê com dor, sua partida da Rússia para os EUA para buscar trabalho e consequentemente ganho financeiro para a família. Ela fica com sua avó e algumas noites após, houve um conflito local e todas as casas foram incendiadas e ela acaba sendo enviada pela avó a um navio que iria para EUA, mas ela acaba desembarcando na Inglaterra, sozinha. Lá, acaba sendo auxiliada por uma instituição, onde lhe dão um nome novo (Susie) e lhe ensinam a falar inglês. Apagam sua identidade antiga, lhe tomam as lembranças inclusive a foto de seu pai. Acaba sendo criada por uma família que a adota e lhe dá toda a educação, mas ela, mesmo depois de reinventada na Inglaterra, ainda se lembra de parte da essência de quem era. Adulta, ela parte para a França e se junta a uma companhia a fim de apresentarem-se em teatros. Assim, nestas apresentações e no meio artístico, conhece Lola (Cate Blanchett) que se torna sua amiga inseparável. Conhece o cigano César(Johnny Deep), que pouco fala, mas também se aproximam no dia-a-dia dos espetáculos e Dante (John Turturro), o vilão simpático, o cantor de ópera e rico.



Susie tem um sonho, reencontrar-se com seu pai. Cesar é um forasteiro por definição, é um viajante que observa e escuta (Johnny Deep faz um personagem de poucas falas, sua interpretação é fantástica no silêncio e na imobilidade). Seria seu aliado natural. Reconhecem algo um no outro, mas eles se entregam de maneiras diferentes. Ele aceita passivamente o destino do povo cigano e ela tenta fazê-lo lutar contra isto. Ao mesmo tempo, o modo que ele olha para ela, a abre para o mundo, a faz desabrochar, permite que ela volte a amar e confiar e isto a ajuda a sobreviver. Eles dão algo um ao outro. Ela se aproxima das coisas de seu povo, conhece sua família, coisas da cultura cigana, principalmente as músicas. Acaba dividindo apartamento com Lola, russa, com um forte sotaque (Cate Blanchett está sensacional aqui, cria uma linguagem corporal fantástica, um papel com muitas falas, mudanças e falha de caráter, muitas fraquezas e assim mesmo com uma profundidade, inteligência e tragédia - a heroína trágica - com sua beleza incrível) , que vê uma oportunidade em Dante para subir degraus na sociedade. Usa da beleza, sensualidade e astúcia para conquistá-lo. Dante é um cantor de ópera, muito reconhecido, de sucesso e prestígio entre os nazistas. Mas ele esconde um segredo, ele também é judeu. Ele é capaz de tudo para não ser pego. Mas não deixa de ser interessante no seu jeito de ser e tão complexo quanto os outros personagens.














25/07/2008

FILMES E PSICANÁLISE...cont...

JOHNNY & JUNE
Walk the line, 2005, James Mangold

elenco: Joaquin Phoenix (Johnny Cash), Reese Witherspoon (June Carter), Ginnifer Goodwin, Robert Patrick

Existem determinados filmes, que me faz querer dizer tanto, que acabo me perdendo nas palavras. Fica muito difícil sintetizar, pois cada cena me traduz uma série de coisas que não me parece justo fazer apenas uma sinopse corrida e pronto.

Me desculpem àqueles que me dizem que em blog não se pode se estender tanto, pois fica chato e as pessoas tem pressa e não tem paciência pra ler tanto. Porque Blog é isto-assim-e-assado......Então, vou dizer o seguinte : pode sair agora! OK!! It doesn´t matter! Se você tem pressa, seu lugar não é aqui.

Meu objetivo não é audiência e sim usar dos filmes como lentes pra olhar o mundo, as pessoas, as personalidades que me interessam e me motivam a escrever alguma coisa e buscar mais sobre isto, para poder ir um pouco mais além, e retornar a mim.

Achei verdadeiramente cativante este filme, baseado em "Man in Black" e "Cash: the autobiography" escrito por Johnny Cash. Cantor, rebelde, fora-da-lei, o lendário 'homem de preto', nesta história de vida, que não cobre todos os aspectos, dá um foco maior ao seu relacionamento com June Carter, a jornada dos dois na realidade, recheado de várias boas músicas ao longo do filme.


A Jukebox de Cash:




- Get rhythm
- You´re my baby
- Rock and roll ruby
- That´s alrght mama
- Jackson
- Cockaine blue





Joaquin Phoenix no papel de Johnny Cash, conseguiu capturar a alma, aquele tipo de força, de inquietude, sensualidade e integridade de Johnny, principalmente o olhar penetrante. Dá para seguir os pensamentos dele, a transição é silenciosa e isto cria uma certa tensão.


Johnny era um artista na sua mais pura essência : arte, alma, espírito, música, guitarra e condições ruins.


Reese, enquanto June Carter, consegue colocar toda a docilidade de espírito e firmeza de caráter e imprimir o gênero "ultracaipira" e ao mesmo tempo sofisticado que tinha June, pois Reese nasceu em Nashville, estudou lá, inclusive. Ambos acabaram dando ao conjunto da obra uma leveza da qual não se vê mímicas, nem imitações, nada forçado.

***

Johnny estava saindo de uma fase negra da sua vida, por volta de 68. O seu primeiro casamento havia acabado, sua voz ficara muito ruim por causa dos remédios. Cancelou shows e foi expulso do Grand Ole Opry. Seu comportamento no estúdio o isolou dos amigos de trabalho. Foi considerado "acabado" por muitos do meio. Ninguém tinha certeza se gravaria novamente. Quando ficou limpo das anfetaminas e começou a retomar sua vida, ele quis anunciar sua volta em um show na prisão. Ele era humilde, sua vida foi difícil desde o começo. Identifica-se com os operários, presidiários, os oprimidos, enfim sentia uma ligação com quem estava na pior. Foi ao Vietnan fazer shows para os soldados. Voltou e foi a uma reserva indígena se apresentar, onde lutavam contra o governo. Ele dizia acreditar nas pessoas, não em idéias. Cantou em várias prisões na década de 50, sentia-se em casa, como ele mesmo dizia.

Há uma canção chamada Folson Prison, em que a letra fala que ele havia atirado em alguém só para vê-lo morrer. Ninguém acreditava que ele havia feito isto, mas as pessoas achavam que ele havia sido preso. Quando ele fez esta canção foi pura criação, ele nunca fora preso nem nunca condenado. Na verdade, ele criou esta lenda pra si. Em uma ocasião, ele foi pego contrabandeando mais de 1000 pílulas de anfetaminas do México para os EUA na caixa da guitarra. Talvez se fosse um mero desconhecido, teria ficado na prisão. Quando ele começou a se recuperar e sair das drogas, falou com a gravadora que queria fazer um disco ao vivo na prisão. Foi algo bastante audacioso. O disco estourou, e este seu "Hit" virou um programa de TV de 69 a 71, e nele recebia pessoas como Bob Dylan, Neil Young, James Taylor e pessoas que normalmente não passariam por Nashville. Na época muita gente estava contra o rock´n´roll e Cash acabou juntando as duas coisas. Ele cantava sua música, mas com um posiocionamento rebelde. Atraiu uma audiência de fãs do rock e naquela época, a Nação estava dividida, as gerações estavam se enfrentando, culturalmente Cash estava superando estas diferenças políticas, de gerações, artísticas, dizendo "Essas pessoas importam, podemos ter algo em comum na arte". Folsom Prison tornou-se a maior expressão, não só para a country music mas para a música americana. Isto o trouxe de volta e o colocou na frente de tudo.

Ring of fire
Johnny e June se entendiam de uma forma que ninguém mais conseguia. Diziam que eram almas gêmeas. June já cantava e ele já era seu fã antes de se conhecerem. Em Nashville, ele a conheceu quando foi assistir ao show da família Carter e se apaixonou na hora. Depois viram-se nos bastidores de um espetáculo em comum e ele lhe disse "Um dia vou me casar com você" . Nos anos 60, os Carter sairam em turnê com Cash, e algo entre eles começou a acontecer. Ele exigiu do agente que a contratasse para a turnê e foi assim que ele se aproximou mais dela. Ele sabia que ela seria uma ótima parceira em dueto e pediu que cantasse com ele. Ele acabou aprendendo muito com ela sobre palco, a interpretar e como se apresentar. Criaram grandes canções. Se apaixonaram durante a turnê . No início do relacionamento foi ele se aproximando dela e ela recuando, mas depois se aproximando. Ela sentia-se relutante, pois era casada e ele também. June sabia que era como fogo e gasolina. Uma combinação perigosa. Assim surgiu a canção composta por ela : Ring of fire, era sobre o desejo que sentia por Cash e como isso a consumia. Era algo que ela queria mas não podia ter. Doía.

Os 2 tentavam controlar o romance e Johnny tentava também controlar o vício. Tomava anfetaminas pra tocar, sentia-se mais confiante no palco, o que logo seria excessivo e destrutivo. Este fator era algo que também fazia June não querer envolvimento com ele.
June era a única pessoa que entendia a batalha que ele lutava e sabia o que era preciso fazer para apoiá-lo. Johnny lutava contra seus demônios e June era a arma contra eles.

Johnny conseguiu uma superação, que comoveu amigos e parentes, ele percebeu o que seu lado louco fazia e decidiu mudar com a ajuda de June. Ela salvou sua vida de várias maneiras, física e emocionalmente. Ele deixou o vício e casaram-se e tiveram um filho. Ela era totalmente devotada a ele. Ela nascera numa família que praticamente inventou a 'country music' , poderia ter tido uma carreira solo, mas sempre quis ficar em segundo plano para Johnny. A carreira dela era manter Johnny na linha.
A história deles é linda!
Vê aí os vídeos, muito bacana.


22/07/2008

FILMES E PSICANÁLISE...cont...

GIORDANO BRUNO
Giordano Bruno, 1973, Giuliano Montaldo



Elenco: Gian Maria Volonté, Renato Scarpa, Mark Burns, Giuseppe Mafflioli, Hans-Christian Blech, Charlotte Rampling, Mathiéu Carrièri, Massimo Foschi


Com certeza este filme é uma obra cultural de referência à uma personalidade de uma época, na qual não podia-se pensar diferente, ser alguém de espírito livre ou mesmo falar sobre temas contraditórios, como foi Giordano Bruno. Um homem fora do seu tempo.
Seu nome de batismo era Filippo Bruno, nascido em Nola, província de Nápoles. Foi estudar humanidades, lógica e dialética em Napóles ainda bem jovem. Suas maiores influências foram no período de sua formação. Atraído pelas obras de Platão e Hermes Trimegistus, muito difundidos na Itália (no período Renascentista). Aprendeu Mnemotécnica (métodos de memorização) influenciado por Raimundo Lúlio. Aos 17 anos, ao entrar no mosteiro, já começava a duvidar dos dogmas da igreja. Ele recebe hábito em São Domingos (onde São Tomás de Aquino havia lecionado) e assim muda de nome para Giordano.

O que mais me chama a atenção para a vida dele é que suas tendências heterodoxas, não só o levaram para a fogueira da Inquisição, mas ainda hoje perdura os motivos da sua condenação. A igreja apenas deplorou a sua execução. Assim quis eu tentar entender um pouco melhor os pensamentos de Giordano Bruno.

[Obviamente que não estou tomando por base o filme, mas sim a biografia. Acho sim, que vale à pena o conhecimento prévio antes do filme, depende daquilo que cada qual tem por interesse, neste caso o filme torna-se um complemento].

Dotado de um temperamento colérico e arrogante, dado à explosões, era intolerante com a ignorância dos colegas de claustro, principalmente quando o pegavam para discussões teológicas. Ainda noviço no Mosteiro, dizia-se saber mais teologia do que todos os que o interpelavam. Aos 28 anos foi ameaçado de excomunhão e viu sua carreira acadêmica e sacerdotal serem fechadas. Assim tornou-se como um cigano e iniciou sua peregrinação de cidade em cidade. Viu-se como um Monge errante, para ele qualquer lugar era lugar e lhe bastava. Tanto que dizia o seguinte : "Ao verdadeiro filósofo qualquer terreno é a sua pátria" .

Ele criticava o cristianismo ter destruído as antigas religiões, pois pra ele era fonte de conhecimento. Vira em Hermes Trimegistro um símbolo importante da teologia antiga (de onde todas as outras derivaram). Difundiu em incontáveis conferências a doutrina heliocêntrica de Copérnico, ao colocar o sol no centro do cosmos, resturara a deidade egípcia. A igreja, visto isto, não ficaria em paz perante estas pregações de Bruno.

Acreditava na liberdade e no direito de dizer o que se pensava, tinha um verdadeiro fascínio pelas várias formas de interpretar o mundo. Interessou-se pela cabala judaica. Manteve-se dominicano formalmente apenas, pois na verdade se via como um mago hermético, um sacerdote de Amon. Poderia chamá-lo de tudo, menos "dogmático", pois a abertura que ele tinha para tudo que viesse a somar ao seu conhecimento era bem vindo e para o espanto dos teólogos, não fazia distinção de magia boa da má; dizia que eram como a espada, podia-se "fazer bom ou mau uso de seu fio" . Moisés e Jesus eram magos para ele. Citando Epicuro e Lucrécio, assinalava a existência de tantos sóis e outros tantos planetas e repudiava a concepção de finitude de Aristóteles, dizendo não haver centro do universo, e que "o seu seu centro está em toda parte e sua periferia em parte nenhuma" . Quanto mais mundos houvesse, mais vasto seria o império de Deus.

Nestas suas andanças, Bruno tentava encontrar o lugar ideal, de ambiente mais liberal e ameno para suas perigosas palavras e exercícios de magia. Nada viu de mal em ser católico e ao mesmo tempo ingressar numa congregação luterana na Alemanha. Inclusive, elogiou publicamente Lutero, em Wittemberg (a capital da heresia). Tinha o profundo desejo de que Luteranos e Católicos deixassem de se odiar, sonhou até que se abraçassem à verdadeira religião nascida nas pirâmides. Esta foi a utopia de Giovani Bruno. Sem lugar no mundo, e sem religião que aceitasse seus pensamentos. Assim se condenou.

Saindo da prisão, aos 52 anos ao lado da Igreja de S.Pedro, seguiu pelas ruas de Roma até chegar ao Campo dei Fiori, onde lá o deixaram amordaçado para que assim fosse queimado . Antes, ofereceram-lhe o crucifixo para o beijo e ele revirou os olhos.

No filme Giordano Bruno, pode-se observar o conteúdo histórico presente e desfrutar de imagens belíssimas assim digo o mesmo quanto a trilha de Ennio Morricone e a estupenda interpretação de Gian Maria Volonté.

19/07/2008

FILMES E PSICANÁLISE...cont...

CALLAS
Callas Forever, 2000, Franco Zeffirelli

elenco: Fanny Ardant (Maria Callas), Jeremy Irons (Larry Kelly), Joan Plowright (Sara), Jay Rondan (Michael)

Este filme foi uma homenagem à grande cantora Maria Callas por parte de Franco Zeffirelli, que era seu amigo particular de tantos assim como colega de trabalho, dirigindo-a em inúmeras ocasiões. Não se trata de um filme biográfico, mas seria fruto tanto da fantasia dele como das lembranças desta sua amizade de longa data. Logo após a morte de Callas, Zeffirelli foi convidado a realizar um filme biográfico sobre ela, tanto pela Columbia, quanto pela Paramount, mas parece que o que queriam era algo sobre os Vips e fofocas. Assim, recusou ambos. Para ele não teria sentido contar a estória de sua vida infeliz com o marido, a época terrível com sua família e seu caso com Onássis. Não sentiu o menor interesse de remoer os detalhes sórdidos de sua vida. Também, segundo ele, não havia nenhuma atriz capaz de interpretá-la e pede desculpas às atrizes Merryl Streep, Angelica Huston e Glenn Close. Depois de tantos anos após a morte de Callas, numa época em que as novas gerações não tiveram a oportunidade de conhecer Callas, Zeffirelli achou mais fácil contar sua estória, que mesmo fictícia tem muito de verdade sobre ela.

Linda, "Chic", dona de uma das vozes consideradas a "voz do século", dona de uma personalidade fortíssima (será esta a marca de uma Diva?).
MARIA CALLAS (1923-1977) , nasceu nos Estados Unidos, de família grega, se naturalizou italiana. Seu verdadeiro nome era Anna Cecília Sofía Kalogeropoulos. Aos 15 anos já fez sucesso em Verona com sua interpretação na Ópera La Gioconda de Pochielli e depois disto outros triunfos em todos os teatros da Itália. Seu repertório era amplo, o que pode se ver em sua discografia. Possuia também uma característica muito marcante para a dramaticidade, o que a transformou em Prima-dona (assim em Norma de Bellini ou como Medéia de Pasolini). Sua vida pessoal foi tão intensa quanto sua carreira. No ápice de sua fama, foi amante de Aristóteles Onássis. Depos de 10 anos, ele a abandonou subitamente para se casar com Jacqueline Kennedy. Isto a fez sofrer muito e 3 anos mais tarde, sozinha em seu apartameto em Paris, morre de um ataque cardíaco.









O Filme

percorre o momento de vida que Callas estava reclusa em seu apartamento em Paris, longe há muito dos palcos, então com 53 anos de idade. Recebe a visita do empresário e amigo Larry (Jeromy Irons). Ela não quer recebê-lo, mas ele insiste e assombra-se com a figura à sua frente. De roupão e abatida, sua velha amiga é uma sombra fantasmagórica do que foi a grandiosa cantora lírica Maria Callas. Determinado a tirar a amiga do seu exílio, quer ajudá-la a encontrar um novo horizonte. Ele propõe que Callas faça um especial para a TV, interpretando uma de suas peças de grande sucesso no passado. Mas, ao invés de utilizar sua atual voz, que está desgastada pelo tempo, o produtor quer utlizar a dublagem de um de seus discos. Relutante mas atraída pela oportunidade de redescobrir sua vida, Maria Callas passa uma noite em claro em que se debate entre o sucesso que tanto amava e o fracasso com que encerrou sua carreira. Num vislumbre de sua personagem, porém Maria Callas decide aceitar o desafio e se entrega a um dos epísódios mais marcantes de sua estória.
Callas Forever apresenta de maneira brilhante os vários trechos de óperas famosas, assim como as interpretações de alto nível como no caso de Fanny Ardant no difícil papel de Callas.

Segue um video com os slides de suas fotos com a Ópera Casta Diva, cuja qual encerra o filme. Sua voz é realmente algo que nos eleva.

18/07/2008

FILMES SERIADOS

JORNADA NAS ESTRELAS
Star Trek, 1966-1967
Série, 1ª Temporada completa



De vez em quando, mostro algumas das minhas obsessões. Esta é uma delas!
Não me canso de rever sempre, desde os filmes mais antigos, como os da série que mostro aqui, indo aos filmes todos que foram realizados para o cinema. AMO!!!
Nesta primeira temporada foi lançado 8 DVD legendados. Para quem aprecia (como eu) vale muito à pena.


























O primeiro ano da série, exibido em 1966-1967 mostra as aventuras da nave da Frota Estelar em pleno século 23, a USS Enterprise, e sua tripulação composta por Kirk, Spock, o médico de bordo Leonard McCoy (DeForest Kelley), o engenheiro Montgomery Scott (James Doohan), o timoneiro Sulu (George Takei) e a oficial de comunicações Uhura (Michelle Nichols).
Para quem se lembra dos episódios que passavam na TV, deixo um vídeo da abertura com a dublagem original.

16/07/2008

FILMES E PSICANÁLISE...cont...

Um Homem de Família
Family Man, 2000 - Brett Ratner

Por vezes nos encontramos pensando sobre os Rumos da nossa vida. Pensamos se a decisão foi a mais positiva (ou não), se tivéssemos dito sim ao invés de não, quando tomamos o rumo escolhido e seguimos adiante e sobre àqueles que devemos por vezes decidir, naqueles momentos cruciais que nos fazem perder o sono, que escolha devemos fazer. São nestes momentos em que paramos de verdade, puxamos o nosso freio e ficamos envolvidos pelas dúvidas que vão surgindo. Os caminhos que seguimos, de tempos em tempos nos faz pensar, se o outro teria sido a melhor escolha, se nele seríamos mais felizes, se teríamos mais progresso, se as coisas seriam mais fáceis...ora! Muitas coisas que escolhemos, nos faz deixar tantas outras pra trás, renunciamos. Por que abrimos mão das coisas que queremos? Sabe aquelas que mais queremos, por que será? Por medo? Por ser difícil? Por covardia? Por falta de paciência? Por não saber persistir? Por comodismo? Por não saber se conduzir? Será que abrir mão é não querer sofrer? Mas se sofre assim mesmo. É inevitável e incontrolável, porque sempre estará fresco na memória, o fato de ter deixado ir aquilo que poderia ser a melhor coisa da sua vida. É isto que advém deste sofrer. Cada caminho é único e quando escolhido, sem volta.


Neste filme, a premissa é basicamente esta. Vemos a vida de um homem que abriu mão de um amor pela sua carreira. Ele é Jack Campbell (Nicholas Cage), que num dado momento de sua vida, cansado de ser o solteiro cobiçado, um homem que é super bem sucedido nos negócios de Wall Street, que possui o que quer de mais luxuoso e requintado, não se sente feliz e justamente na época de Natal, ele recebe uma ligação da sua ex-namorada (da qual amava e abriu mão), depois de vários anos. Sua secretária lhe pergunta se retorna ou não, ele pensa por um breve momento e diz que não, joga o número dela fora e segue pra sua residência.

O que se passa depois é justamente a dúvida, a qual mencionei sobre os caminhos que escolhemos, no caso dele, como se viajasse de uma instância à outra, ele acorda pela manhã com uma mulher (sua ex-namorada), Kate (Téa Leoni) como marido dela, e ainda com dois filhos (uma menina de 6 anos e um bebê) numa casa mediana no subúrbio de Nova Jersey. Ele tenta entender o que está se passando com ele, mas pelo que pôde perceber ele faz parte desta vida, com uma família constituída. Só que sem as lembranças passadas , ele não sabe o que deve fazer, como agir, com a esposa e os filhos, enfim, existe o seu trabalho que ele não sabe o que é ainda e assim vai descobrindo aos poucos destas pessoas. Mas sua primeira tentativa é ir até o lugar onde mora em Nova Iorque, no seu apartamento luxuoso, saber onde está sua Ferrari, ir até o prédio de escritórios na Wall Street onde é diretor da companhia...afinal ele quer sua vida de volta!

Chegando ao prédio de seu apartamento de cobertura, ele se vê barrado e não reconhecido pelo porteiro, que todos os dias lhe puxava o saco. Uma moradora e vizinha sua, passa e lhe esnoba como se ele fosse um pedinte. Isto tudo o deixa atordoado, assim ele volta pra sua "outra casa", sem entender nada. Ele terá que descobrir por si mesmo o que isto deve ser.

Ele vê que esta vida é totalmente limitada financeiramente, sua esposa é uma advogada que trabalha quase de graça, sua casa é hipotecada, o carro da família é uma velha Van e que ele é um vendedor de pneus na loja do sogro. E isto é demais pra ele. Assim, como não tem outro jeito ele vai se adaptando e tentando se ajustar à sua nova condição. Um dia ele vê algumas fitas de video que estão em sua sala, e resolve pegar uma delas pra ver. Esta é do aniversário da sua esposa. Atentamente ele assiste e se vê neste filme como uma pessoa alegre e amado pelos seus amigos e principalmente pela sua mulher. Há uma passagem, em que ele canta uma canção para ela, desafinadamente, mas com tanto amor, e ela o olhando apaixonadamente, que ele assistindo aquela cena, consegue entender o porque de tudo. O amor que ele abriu mão, é aquele que ele está vendo ali, na fita de vídeo e que o faz despertar da dúvida e da monotonia da sua "outra vida". É este amor que ele quer e que não conseguiu com todo o dinheiro que ele conquistou. Ele percebeu que ama de verdade a kate e os filhos dela, que são dele. Ele é inteligente, então acredita que pode conseguir dar uma vida melhor à sua família, ele quer isto e acredita que pode e vai tentar isto. Será que esta é uma nova chance para ele?












Mas subitamente, ele depois de uma noite de sono, retorna à sua antiga vida, no luxuoso apartamento, com sua Ferrari e trabalhando em Wall Street, mas agora com algo novo. A visão do que poderia ter sido. Quem dera púdessemos ter também esta oportunidade, não?

14/07/2008

CINEMA MUDO

Nosferatu
(Nosferatu, eine symphonie des grauens, 1922 - Murnau)


Venho outra vez falar de filme do cinema mudo. É minha paixão, acho que por filmes foi minha primeira, lá na infância. Nosferatu foi meu primeiro, não só mudo como de terror.

Este na minha opinião um dos melhores filmes de vampiro de todos os tempos, outro representante do expressionismo alemão, cuja adaptação do livro de Bram Stocker, quase se perdeu, por não ter sido autorizado pela viúva de Stocker. Virou um clássico e fora da Alemanha várias cópias foram trabalhadas continuamente, inclusive com legendas como por exemplo o lançamento do DVD pela Continental e que bem provável não seja fiel à obra original de Murnau. Mas...
A figura de Max Schreck como o conde Orlock é inesquecível pra mim, me amarrei desde sempre. Hoje ainda o vejo como o melhor dos vampiros de todos os tempos, sua performance é impecável e imitada pelos sucessores, no meu ver, até hoje. Orlock causa repulsa e medo, mas provoca em determinadas cenas um sentimento de pena e que logo depois se transforma num verdadeiro parasita repugnante.
Em 1979 Werner Herzog refilmou como Nosferatu, o vampiro, com Klauss Kinski e A Sombra de um vampiro em 2000, também foi inspirado na obra, cuja a interpretação que Willem Dafoe faz é do ator Max Schreck, muito boa por sinal, que questiona a pessoa dele enquanto ator de filmes de terror e se ele poderia ser na realidade um vampiro de verdade. Um filme interessante pra ser visto também.

04/07/2008

LABEL

1984


OK!....A PEDIDOS COLOCO A CAPA DO FILME.



03/07/2008

FILMES E PSICANÁLISE...cont...

1984
Nineteen Eight Four, 1984, Michael Radford
Elenco: John Hurt, Suzanna Hamilton, Richard Burton

Antes de tudo, um desabafo : consegui novamente ler o livro que deu origem a esta adaptação e ver também depois o filme. Sim fui rever tudo porque gostei desde a primeira vez sem que ninguém precisasse me dizer que era bom. Mas a razão disto também, porque li um artigo recentemente na internet, na verdade uma resenha do filme e que me incomodou bastante. Ele comenta sobre a estória e blá-blá-blá e ao final conclui que este filme hoje em dia vale apenas a locação para se conhecer de onde vem o termo Big Brother. Olha que coisa mais lamentável, rasa e sem conhecimento. Então fui rever tudo de novo, como se fosse a minha primeira vez e continuo achando o livro sensacional, foi profético, que escrito na década de 40, mantém a metáfora do mundo atual. O filme retratou fielmente a obra, uma das melhores adaptações realizadas para o cinema. Parece que vejo na realidade os personagens retratados por ele.


Este filme, como já disse, é uma adaptação fiel ao livro de George Orwell (publicado em 1949), que retrata um mundo no futuro, onde o governo controla as massas, manipula seus pensamentos, muda o sentido da história e muda também o sentido das palavras usadas, conforme acham necessário, criando uma nova língua.



Sobre a estória do filme : O mundo está dividido em 3 super estados : a Oceania (América, Reino Unido e Austrália), Eurásia (Europa e ex-União Soviética) e Lestásia (China, Indochina, Japão e Mongólia). O mundo é dominado pelo regime totalitário e a liberdade limitada pelo Estado. A estória passa-se na Inglaterra, em Londres (considerada a capital da Oceania), e conta a vida de um homem chamado Winston Smith (John Hurt), funcionário do governo, no Ministério da Verdade, um órgão que cuida da informação pública do governo. Neste departamento, Winston cuida da retificação de notícias, ou seja ele é quem altera constantemente a verdade e a "História". Júlia (Suzanna Hamilton), sua colega de trabalho, lhe chama a atenção pela sua irreverência e sensualidade e se interessa por ela, o que é um problema grave pois num lugar onde onde sexo se não for para procriação é considerado crime. O´Brien (Richard Burton), uma pessoa enigmática, que lhe fascina pelo companheirismo que transmite. Ele compra um diário e começa a registrar suas memórias (mas ele não tem muita certeza dos fatos de sua infância ou de momentos antecedentes à mudança da política), que ele mesmo não tem muita clareza. Escondido dos telescreens (telas que vigiam as pessoas, inclusive dentro de suas próprias casas), Winston comete o maior dos crimes : o thoughcrime (crimidéia), ou em outras palavras pensar por si mesmo. Assim Winston se revolta contra esta sociedade repressora do Big Brother (Grande Irmão), juntamente com seus amigos mas não com coragem e força suficientes para seguir adiante, e percebe que não deveria ter feito isto.



Em Oceania não existe nem passado nem futuro, apenas um eterno presente, que por meio dele o Partido Interior controla toda a população do território. É a total abolição do passado para o controle total do futuro. Existe uma guerra permamente com o inimigo distante e a constante alienação da massa, chamada os Proles. Os 3 slogans do partido são : Guerra é paz, Liberdade é escravatura e Ignorância é força. O partido utiliza de 2 técnicas fundamentais para controlar a memória das pessoas : a Novilíngua, ou seja a nova língua que deve ser usada para controlar e limitar o pensamento, criando termos que na verdade diminuem a quantidade de palavras a ser usadas (o que ocorre em outras línguas é o inverso, é o acréscimo de termos e derivativos das palavras). A outra técnica é o doublethink (um dos termos criados pela Novilíngua que é o duplipensar). Significa a capacidade que o indivíduo deve ter de integrar em si, simultaneamente, duas convicções contraditórias, aceitando a ambas. Ou seja, na prática dizer mentiras deliberadas e acreditar nelas sinceramente.


O doublethink é utilizado para dominar as castas superiores e os Proles (que são um pouco mais de 80% da população) são de outra forma. Além de se alimentar do ódio pelo inimigo, são alimentados por pornografia barata, loterias cujos prêmios nunca saem, música fabricada por máquinas, literaturas de baixo nível. Mas Winston acreditava que um dia a Prole se rebelaria. Pois é nesta idéia, onde mora a esperança contra o retrato assustador da razão absoluta, que é o poder total deste mundo de 1984. Winston e Julia são presos pelos seus crimes, O´Brien se revela membro da thouchpolice (palavra criada também pela Novilíngua) e tenta cedê-lo ao partido.


Ao contrário do coleguinha que tão inteligentemente recomenda o filme pra conhecimento do termo Big Brother, eu quero enfatizar que se trata de uma obra fascinante pelo conteúdo, pela visão de Orwell, pela crítica à tirania da razão, que é identificada em 1984 como o poder total e absoluto, um fim em si mesmo não um meio. Para que a razão exista, é preciso reduzir tudo aquilo que é humano. Seu espanto está justamente nisto, no fenômeno do poder no máximo alcance, não só nos regimes totalitaristas mas porque não dizer também na democracia e nos seus dispositivos tão sutis.

01/07/2008

FILMES E PSICANÁLISE...cont...

BASQUIAT TRAÇOS DE UMA VIDA
Basquiat, 1996 Julian Schnabel

Elenco : David Bowie, Jeffrey Wright, Dennis Hopper, Christopher Walken, Gary Oldman, Benicio Del Toro, Courtney Love, Willem Dafoe
Este filme conta parte da trajetória meteórica deste jovem artista das ruas, principalmente da fase mais conturbada, completamente marginal ao ápice do seu estrelado como um ícone da "Pop-Art", pelas ruas, drogado, Jean Michel Basquiat, americano, nascido no Brooklin, revela todo o seu talento por meio de seus grafites pelas ruas de Nova Iorque, algo não muito comum no início da década de 80. Se auto intitulava "SAMO shit" (Same old shit) e assinava seus grafites assim. Nas mesmas ruas, onde dormia dentro de caixotes de papelão feito mendigo, pelas praças, procurava vender seus mini-quadros feitos como cartões postais.

Na verdade o relato do filme é biográfico, mas em alguns momentos tenta penetrar na mente de Basquiat. As mensagens que SAMO deixava pelas ruas, era algo intrigante, como se fossem profecias, atrás de seus desenhos, assim despertou a curiosidade de alguns "marchands" em conhecê-lo melhor, os jornais já escreviam sobre ele, quem seria este artista anônimo.

Mas foi a partir de Andy Warhol, que Basquiat acabou dando um salto. Foi quando ofereceu a compra dos seus mini-quadros em cartões, que Warhol teve contato com o trabalho de Basquiat, comprando, com um falso desinteresse. Mais tarde, Warhol o apadrinhou, pois reconheceu um genuíno artista e surgiu entre eles grande uma amizade.

O filme não tenta se apegar às suas fraquezas (dependência das drogas, vida boêmia, as prostitutas) ou aos relacionamentos com os famosos (seu namoro com uma cantora desconhecida, Madonna, ou a formação da sua banda chamada Gray, que tocava pelas noites junto com o também desconhecido músico e ator Vincent Gallo), talvez tivesse trazido mais audiência ao filme, mas a opção foi pela subjetividade da narração.

Existem 3 pontos que achei interessante, que talvez possa traduzir as imagens ou idéias de Basquiat : o primeiro, no início do filme, quando criança com sua mãe o leva numa visita a um museu, diante da obra de Picasso, O Guernica, ele se encanta. Quem sabe, foi aí que surgiu o artista. Talvez, quem pode dizer o que pode ter acontecido em sua cabeça. Imagino, que a cena da coroa dourada (é uma figura bastante presente na obra dele), que surge em sua cabeça, que sua mãe enxerga inclusive, seja uma metáfora do porvir. O segundo ponto, uma cena que se repete ao longo do filme, às vezes ele pára, olha para o céu e vê um mar com uma onda alta e um cara surfando nela. Traduzi como sendo as idéias do ambiente sóciocultural que se refletem nele e ele assim as vê. E o terceiro ponto, é no final quando ele conta uma fábula que metaforicamente, só pode estar falando de si mesmo, de sua vida. Acho melhor registrar a cena do que contar a fábula, onde novamente está presente a figura da coroa.


Veja no vídeo :